Do poder da indignação ou como ampliar a esquerda

A ousadia é construir um Estado que funcione para todos
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O desafio de tornar a esquerda ainda mais popular passa por resgatar, entre nós, a autoestima que só os indignados carregam.

Neste momento de polarização, o diálogo político está interditado, preterido pela troca de ofensas entre adversários que se tratam como inimigos.

Com esse cenário, para crescer e furar bolhas, a esquerda deve pensar em dois eixos.

Resgatar a rebeldia

Um eixo realista: botar fé na mobilização progressista e na renovação da política. É necessário resgatar a rebeldia do sequestro da direita. É preciso se indignar com a realidade.

A indignação une e engaja. Não há algoritmo que sabote. A indignação é democrática. Exige resultados. Desvela contextos. Aprende com a história. Abomina ditaduras. Defende os fatos.

Não é fato que, hoje, os super-ricos pagam menos impostos do que os mais pobres? Não indigna o número de vidas levadas pela violência? A imensa parcela do território dominada por facções criminosas? O número de celulares roubados?

Não é fato que os trabalhadores e as trabalhadoras, hoje na escala 6×1, têm tão pouco tempo para cuidar dos filhos e da família?

Não indigna o tempo perdido em engarrafamentos nos grandes centros e a malha metroviária de chorar de tão pequena?

Por que não olhamos pros milhões de trabalhadores informais, hoje não alcançados por leis e políticas públicas pensadas para o início do século XX?

Não é indigno de uma democracia que 100 milhões não tenham esgoto tratado e 35 milhões vivam sem água potável?

Não te deixa p… da vida que as BETs ganhem bilhões em cima de milhões de brasileiros ludibriados por influencers sem caráter? E que elas paguem muito menos imposto do que pagam na maioria dos países do mundo?

Utopia do possível

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Protesto contra a OMC, em Seattle (EUA), em 1999 (Foto: Reprodução)

Outro eixo é o da utopia do possível, que alerta sobre a necessidade de manter o que se tem para, então, progredir. Afinal, basta uma crise, parafraseando Simone de Beauvoir, para que direitos de minorias e maiorias minorizadas sejam ameaçados.

Precisamos estabelecer um mínimo denominador comum, que pode ser expresso na ideia de nenhum direito a menos. Um posicionamento que ajudaria na reconexão com a população evangélica, por exemplo.

Parte das questões aqui levantadas vem sendo endereçada pelo governo Lula e pode representar, a um só tempo, a manutenção de direitos de um lado e, no médio prazo, o avanço da justiça social. E não se trata de dividir a sociedade.

Ela já está dividida entre os que muito contribuem e os que não dão sua cota justa em prol de uma sociedade menos desigual, a exemplo da parcela de mais alta renda no país, que reúne algo em torno de 150 mil pessoas.

A ousadia aqui é a de construir um Estado moderno e eficiente, que funcione para todos e não apenas para os que dizem não precisar dele. A conta da democracia é justa, desde que todos paguem por ela. E a indignação? É livre!

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